Como comecei a seguir a Ana.

Assim como muita de nós, seguimos a Ana por um mesmo motivos. 
Estamos gordas.
E a gordura sempre me perseguiu, desde pequena, eu estava além de meu peso, uma criança apenas, mas que muito sofria pelo excesso de gordura dentro do corpo, entretanto, não me importava, eu aceitei, durante maior parte de minha vida o fato de que eu sou gorda. Sempre tinha as mesmas desculpas,
“Ah, meus ossos são largos” 
“Ah, mas é por que vem de família, não escolhi ser assim.” 
“Ah, mas é por que eu tenho um quadril largo, então mesmo que eu perdesse uns quilos, eu continuaria gorda”, 
e durante anos, continuei assim.
Sempre fui uma criança que tinha poucos amigos, frequentei um colégio para pessoas ricas, e grande maioria deles, eram mal educados, me olhavam torto, e me desrespeitavam. Lembro-me muito bem quando eu, sentada em minha cadeira durante as aulas, sofria por que aqueles que se diziam “amigos” colocavam dinheiro no meu “cofrinho” para rir de minha cara, é ridículo. 
Eu me esforçava para ter amigas, mas minhas próprias amigas, me faziam sofrer.
Lembro-me também, quando levei vários socos ao estômago, ao rosto, e aos braços, por vizinhos, que me apelidavam de 
“Nhonho” 
(Personagem gordo do seriado Chaves), eu era uma garota, eu tinha sentimentos.
Contar aos meus pais não resolviam, eles escutavam, se lamentavam, mas em seguida, me ofereciam mais comida, eu comia, me sentia bem, e isso se tornou um ciclo vicioso ao longo dos anos. 
Até o dia em que me cansei de sofrer todos os dias em minha escola, parei de sair de casa, e me transferi para uma outra escola, mais longe, porém, estava determinada a mudar totalmente, para que pudesse receber o mínimo de respeito possível. Durante um ano, a tal tática pareceu dar certo, eu estava feliz, realizada, tinha amigos, e ninguém parecia me machucar pelo meu corpo acima do peso, entretanto, conforme a intimidade vinha se aproximando de meus “amigos” para mim, todas aquelas flores foram mostrando seus espinhos, e os apelidos, novamente começaram.
Eu não aguento mais os olhares tortos, não aguento mais as risadas, não aguento mais os apelidos, não aguento mais meu corpo.
“Eu sou horrível”
Era oque digo toda vez que me olho ao espelho.
Eu implorei, e consegui uma nutricionista no início de 2015, estava começando a perder peso, seguindo suas dietas vigorosamente, eu estava perdendo, eu estava feliz, eu estava mais magra.
E ninguém se dava conta. Eu continuo gorda. 
Perdia 1 kg a cada mês, e não aguentava, queria mais, queria perder mais peso do que apenas 1kg por mês. E foi então, que comecei a contar as minhas calorias, uma por uma, estabeleci uma regra a mim mesma, eu só comeria 800 calorias por dia, e dessa forma, eu fui perdendo mais e mais, perdia 3 kg por mês. Eu estava feliz.
Mas não percebi que havia acabado por adquirir a anorexia, comigo, a Ana foi se aproximando cautelosa, mas venenosa, eu sabia que era errado, sabia das consequências, mas almejava-a para mim. Então, li blogs, li sobre pessoas que são ligadas por esta doença milagrosa, comecei a seguir seus passos, delicadamente, desenvolvi formas, maneiras, das quais posso agir livremente perto de parentes, amigos, e pessoas, para que não percebam minhas atitudes, foi quando, comecei a seguir realmente a Ana.
Quando menor, acreditava que a Anorexia era coisa de americanas magrelas que queriam se tornar mais magras, para se parecerem com modelos, e então paravam de comer, mas eu estava errada. Anorexia é um estilo de vida, uma forma, que ninguém lhe conta, de como emagrecer mais rápido.
Entretanto, todo milagre tem seu preço.

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